https://lackof.files.wordpress.com |
A menina sentia uma dor azul, todos os dias,
ali pelas cinco horas da tarde.
Não era uma dor grandona de puxar o choro pra
fora. Era só uma dorzinha. Mas era bem azulona. Achavam que era maluquice.
"Dor não tem cor!"
Mas como a dor azul não passava, começaram a
achar que ela doía mesmo.
Levaram a menina para todos os médicos do
mundo, fizeram todos os exames que existiam, e ninguém descobriu o que era
aquilo. Procuraram então um psicólogo e é claro que achou que aquilo era
psicológico.
A dor azul não queria nem saber. Ia e vinha.
Sempre na mesma hora.
Os anos foram passando e o azul da dor
continuava colorindo as tardes da menina. Só as tardes.
De manhã ela sentia uma saudade lilás. E à
noite, um desejo prata que ela não sabia bem de quê.
A menina cresceu. E um dia conheceu um rapaz
que sentia uma vontade violeta de espirrar nas manhãs nubladas.
Eles se gostaram, um gostar laranja que foi se
avermelhando sem parar, até que se casaram numa noite dourada de alegria, cheia
de luzinhas roxas de paixão.
Um ano depois, numa madrugada de cheiros
cor-de-rosa, ela teve uma filhinha. E nunca ela tinha sentido um carinho tão
verde em toda sua vida.
A filha da menina, que cresceu, herdou a
vontade violeta de espirrar do pai e, da mãe, o desejo prateado.
A dor azul nunca mais apareceu.
E a menina, que já era uma mulher, descobriu
que o nome da dor azul, como está no dicionário, é desassossego.
E que esse desassossego queria dizer, mais ou
menos, em palavras de adulto:
"Como será
que vai ser minha vida daqui par frente!?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário e sua critica é muito importante para mim, pois somente dessa forma conhecerei melhor os visitantes do meu blog e poderei me aperfeiçoar naquilo que ainda não está bom. Obrigada!!!